segunda-feira, 19 de abril de 2010

O APERFEIÇOAMENTO E AS VIRTUDES CRISTÃS


Escrevendo sua segunda carta, Pedro insiste em dizer aos crentes para que prossigam passo a passo na graça divina. Para isso era necessário colocar toda diligência nessa caminhada de fé, a fim de que a excelência de nosso andar seja acrescentada a fé: “associai com a vossa fé a virtude...” (2 Pe 1.5). A virtude que Pedro se refere diz respeito a uma firme e constante disposição para a prática do bem. Ele ainda orienta o crente a acrescentar outras qualidades a essa caminhada de fé: conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor. Pedro não quer dar a entender que o crente deve cultivar, por ordem, cada uma das qualidades alistadas, até aperfeiçoar todas elas. Pelo contrário, devem ser todas cultivadas simultaneamente. E mais, elas devem estar “aumentando” ou “Crescendo” a cada dia como prova de nosso crescimento espiritual contínuo. Outro fato importante é que essas qualidades são prova de nossa eleição e de nossa participação da natureza divina e a existência delas na vida impede impedem uma vida de fé improdutiva (2 Pe 1.4,8-10).
A verdade que aprendemos com Pedro e também confirmada por Tiago é que fé sem obras é morta. Desculpe-me a expressão, mas “fé sem virtude fede”, vida de fé sem disposição para a prática do bem é como um sepulcro caiado. São as virtudes que produzirão uma vida cristã autêntica, completa e frutífera.
As qualidades que Pedro destaca estão diretamente ligadas ao que a sociedade conhece como “virtudes cardeais”, são elas: Prudência, Temperança (moderação), Justiça e Coragem. C. S. Lewis escrevendo sobre estas virtudes nos apresenta algumas reflexões sobre as manifestações dessas virtudes na vida do crente. Ele diz que um homem que persevera na prática de atos justos terminará por obter certa qualidade de caráter. É essa qualidade que chamamos de “virtude” e não as ações isoladas. Se pensarmos somente em ações isoladas estaríamos encorajando pelo menos duas idéias erradas: 1) Pensar que as ações corretas praticadas pelas razões erradas nos ajudam a construir a qualidade interior chamada virtude. 2) Crer que Deus quer simplesmente a obediência a uma lista de regras, ao passo que o que ele quer são pessoas dotadas de um determinado caráter.
Vejamos o que C.S. Lewis fala sobre cada virtude cardeal:
I – PRUDÊNCIA
A Prudência é aquela qualidade que leva o homem a pensar em seus atos e conseqüências. Deus quer que usemos nossa mente para avaliarmos as esferas da vida. Jesus nos orientou a seus discípulos a serem simples, mas ele também disse para que fossem prudentes (Mt 10.16). Em outra versão a palavra “símplices” é traduzida por “sem malícia” e “prudentes” por “astutos”. Jesus está dizendo que a simplicidade exigida de um discípulo não descarta o uso das qualidades de raciocínio. Devemos ser sem malícia, mas não devemos ser tolos a ponto de negligenciarmos o pensar. O cristianismo ocupa o cérebro, e o uso de nosso cérebro nos protege. Um homem prudente é aquele que sabe utilizar a suas faculdades mentais, logo, um crente virtuoso irá usar sua mente para se proteger. É por isso que Pedro os crentes a se aplicarem no conhecimento (2 Pe 1.6), pois um dos melhores antídotos contra a heresia é aplicar a mente no conhecimento verdadeiro.
II – TEMPERANÇA (MODERAÇÃO)
Temperança tem a ver com a moderação nos prazeres em geral. O crente é chamado não passar dos limites, mas isso não significa simplesmente abster-se de tudo. É um erro pensar que os cristãos devem ser todos abstêmios. O islamismo e não o cristianismo é a religião da abstinência. Uma das marcas de um mau caráter é que ele não consegue se privar de algo sem querer que todo mundo se prive também. Esse não é o caminho cristão. Um cristão pode até se abster de uma série de coisas, porém, no momento em que começa a dizer que essas coisas são ruins em si mesmas, ou que começa a fazer cara feia para as pessoas que usam essas coisas, ele se desviou do caminho da virtude. Escrevendo a Timóteo o apóstolo Paulo diz que Deus nos deu espírito de moderação, ou seja, equilíbrio para desfrutarmos dos prazeres da vida (2 Tm 1.7). Aos filipenses diz a moderação na vida do crente deve ser vista por todos os homens (Fp 4.5). Pedro vai falar dessa virtude como sendo o domínio próprio (2 Pe 1.6).
III – JUSTIÇA
A justiça pressupõe muito mais do que os afazeres de um tribunal. Inclui a honestidade, a reciprocidade, a veracidade, o cumprimento da palavra e todas as coisas desse tipo. Viver em amor e fraternidade, como o apóstolo Pedro fala (2 Pe 1.7), não significa deixar de exercer a justiça, antes o exercício dela é prova de amor, pois visa manter a ordem e promover a humanidade. Deus por meio de Isaías disse que fazer o bem é atender a justiça que significa repreender o opressor e defender o direito dos fracos (Is 1.17). O Senhor estava dizendo que a falta de justiça o fazia esconder o seu rosto toda vez que o povo chegava para cultuar. Um crente virtuoso é um agente de justiça fora das quatro paredes do templo.
IV - CORAGEM
Quando se fala em coragem como uma das virtudes cardeais pode-se dividi-la em duas: 1) A que nos leva a enfrentar o perigo. 2) A que nos leva a suportar a dor. Não se consegue colocar em prática as outras virtudes por muito tempo sem ter de recorrer a essa. Para ter prudência em um mundo de imprudentes, inconseqüentes e irracionais é preciso coragem. Para ter temperança e moderação em um mundo de destemperados e desmoderados é preciso coragem. Para ser agente de justiça em um mundo de injustiça também é preciso coragem. Alguém já disse que “coragem não é falta de medo, é a capacidade de fazer o que precisa ser feito apesar do medo”. O mundo precisa de prudência, moderação e justiça? Logo, ele também precisa de pessoas com a virtude da coragem. Não é por acaso que Paulo diz a Timóteo que Deus não nos deu espírito de covardia (2 Tm 1.2), pois para viver o evangelho é preciso coragem. Pedro fala que é necessário associar a perseverança as demais qualidades, e para perseverar contra as dificuldades é preciso coragem (2 Pe 1.6)

A questão não é que Deus vá negar nossa entrada na vida eterna se não tivermos certas qualidades de caráter, mas que, se essas pessoas não tiverem pelo menos os rudimentos dessas virtudes dentro de si estarão demonstrando que não participam da natureza divina (2 Pe1.4), e sendo assim, nenhuma condição exterior poderá ser um “Paraíso” para elas – em outras palavras, nenhuma condição exterior poderá dar-lhes a forte, profunda e inabalável alegria que Deus tencionou para nós.

Leitura Semanal:DOMINGO: 2 Pedro 1.3-11;SEGUNDA: 1 Pedro 2.7-10;TERÇA: Mateus 10.16-42;QUARTA: Filipenses 4.1-9 ;QUINTA: 2 Timóteo 1.3-14;SEXTA: Romanos 14.1-23
SÁBADO: Isaías 1.13-17

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